Sabás e Esbás: O Que São e Qual a Diferença nas Tradições Pagãs

Descubra a diferença entre Sabás e Esbás na tradição pagã. Aprenda o significado dos rituais solares e lunares, e como alinhar sua vida com os ciclos da natureza.

JORNADAS

Nykalios

8/4/20256 min read

A Dança das Estações: O Que São os Sabás?

Comecemos pelo coração do ano. Os Sabás são as celebrações sazonais que marcam o fluxo da natureza ao longo do ciclo solar. O termo pode soar esotérico, mas o conceito é mais antigo que qualquer religião organizada. Ele é anterior até mesmo à linguagem escrita, impresso nos ossos dos primeiros caçadores que seguiam o sol para sobreviver.

Os Sabás são, essencialmente, rituais de passagem. Eles dividem o ano em oito momentos-chave, formando o que chamamos de Roda do Ano. Quatro desses pontos coincidem com os solstícios e equinócios (os chamados Sabás Menores), enquanto os outros quatro, Samhain, Imbolc, Beltane e Lughnasadh, são festivais agrícolas e espirituais de transição mais profundos (os Sabás Maiores).

Mas por que isso importa hoje, quando colhemos alimentos com um clique e não com uma enxada?

Entre a Roda e a Lua: Os Mistérios dos Sabás e Esbás na Tradição Pagã

“Talvez você não precise de um templo para sentir o sagrado. Mas e se o templo fosse o próprio tempo?”

A primeira vez que presenciei um ritual de Sabá foi no silêncio contido de um equinócio. Não havia altares de pedra, nem multidão vestida de túnicas esvoaçantes. Havia apenas uma fogueira tímida no quintal e um círculo de gente comum, de olhos fechados, que murmurava agradecimentos à terra como se falasse com a mãe depois de muito tempo longe. Foi ali que compreendi que as celebrações pagãs não são apenas atos devocionais, são, antes de tudo, formas de escuta.

E talvez seja isso que mais se perca nas explicações apressadas sobre o que são os Sabás e os Esbás: a escuta. Porque não se trata apenas de nomes em um calendário ritualístico. Trata-se de lembrar que o tempo não é linear, e sim um corpo vivo que respira ao nosso redor, e que a cada respiração, algo em nós também nasce, cresce, declina ou morre.

Representação da Roda do Ano.

Porque a alma humana ainda vive conforme estações internas. Você pode até ignorar o ciclo da lua, mas não pode ignorar o ciclo das suas emoções. Os Sabás são uma forma de alinhar o tempo externo com o tempo interno. São como batidas de tambor que marcam ritmos esquecidos do corpo e da psique.

Sob a Lua Cheia: O Que São os Esbás?

Se os Sabás seguem o sol, os Esbás seguem a lua. E aí já temos um contraste belíssimo: o tempo solar é linear, objetivo, público, a colheita, o plantio, o equinócio. O tempo lunar é íntimo, cíclico, instável, o útero, o sonho, o feitiço.

Os Esbás são, portanto, celebrações lunares, geralmente ocorrendo nas noites de lua cheia. Enquanto os Sabás são voltados à comunhão com a Terra e suas estações, os Esbás são voltados ao trabalho mágico, à introspecção e à relação direta com o mistério. É nas noites de Esbá que se invoca, se consagra, se transforma. É quando as bruxas dançam, oram, se despem, metaforicamente (ou não), e tocam o véu.

Em muitos círculos, o Esbá é também o momento de se conectar com os Deuses. A lua, com seus ciclos, reflete a natureza da própria existência, e trabalhar com ela é um lembrete visceral de que tudo o que cresce um dia se recolhe.

Fases da Lua de Ahmed Fareed na Unsplash

Sabá ou Esbá? As Diferenças que Importam

Num primeiro olhar, pode parecer que estamos diante de duas categorias cerimoniais. Mas a distinção entre Sabás e Esbás vai além do calendário. Ela revela duas formas de estar no mundo.

Sabás                                                           Esbás
Ciclo Solar                                                   Ciclo lunar
Celebração Coletiva                                  Celebração íntima
Conexão com a terra                                 Conexão com o mistério
Ênfase nos Deuses (Deus/Deusa)          Ênfase nos Deuses
Comemoração das Estações                  Celebração das Luas
Foco Ritualístico Simbólico                     Foco Mágico e Devocional

Ambos se complementam como o dia e a noite. Enquanto os Sabás marcam a passagem do tempo, os Esbás marcam o tempo da alma. Um sem o outro é como uma casa com janelas, mas sem espelhos. O mundo entra, mas você não se vê nele.

O Que a Bruxaria (e o Paganismo) Aprenderam com o Tempo

Raymond Buckland, em O Livro Completo de Bruxaria, descreve os Sabás com um detalhamento quase ritualístico, hinos, dramatizações, oferendas, danças. Mas por trás dessa estrutura está uma verdade silenciosa: celebrar os Sabás é, antes de tudo, um gesto de gratidão.

É curioso como essa gratidão não exige luxo nem dogma. Às vezes basta acender uma vela num fim de tarde e dizer: “eu vejo você, outono”. Isso já é um Sabá.

Por outro lado, os Esbás trazem a presença da magia, não como algo extraordinário, mas como algo reintegrado ao ordinário. São noites em que se lança um feitiço, sim. Mas também são noites em que se escreve no diário, se ora com lágrimas, se escuta um oráculo. A magia, nesses encontros, não é feita de efeito especial. É feita de presença.

Um Olhar Pouco Falado: O Descompasso Moderno com a Roda

(Confesso que me pego pensando...)
Será que parte do nosso mal-estar moderno não vem justamente dessa ruptura com o tempo sagrado?

Vivemos sob um calendário gregoriano, artificial e produtivista. Contamos os dias como quem conta dinheiro. Mas esquecemos que, por milhares de anos, contávamos os dias olhando o céu.

Hoje, há crianças que nunca viram uma lua minguante. E adultos que não sabem que existem dois equinócios. Perdemos a educação do tempo natural, e com ela, perdemos algo essencial da alma pagã: o pertencimento.

Por isso, praticar os Sabás e os Esbás, mesmo de forma solitária e simples, é um ato subversivo. É dizer ao mundo: “Eu não sou uma engrenagem. Eu sou um ser cíclico. Eu mudo. Eu retorno. Eu celebro.”

E Se Você Quiser Começar?

Você não precisa de um coven. Nem de um altar rebuscado.
Você precisa apenas de três coisas:

  1. Vontade de observar.

  2. Coragem de sentir.

  3. Tempo para celebrar.


Comece identificando os oito pontos da Roda do Ano. Marque os solstícios e equinócios no seu calendário. Leia sobre Samhain, Beltane, Imbolc. Escolha um deles para vivenciar, nem que seja com uma caminhada meditativa ou uma refeição simbólica.

Depois, olhe para a lua. Marque sua próxima plenitude. Acenda uma vela branca. Fale com a noite como se ela fosse sua avó. Porque talvez seja.

O importante é lembrar: o ritual não começa com o gesto, mas com o olhar.

Porque o Tempo Também É um Deus

Repare no que acontece quando você começa a alinhar sua vida com os Sabás e Esbás. Pequenas sincronicidades surgem. Sonhos se tornam mais vívidos. As estações ganham sabor. É como se o tempo deixasse de ser um fardo, e voltasse a ser uma dança. E há algo profundamente curativo nisso.

Talvez os deuses sempre tenham estado aqui. Apenas falavam um idioma que esquecemos. Um idioma feito de brisas, folhas, luas e auroras. Um idioma que, se escutarmos de novo, pode nos devolver o sentido.

Ouvindo o Tempo Cantar

Não, este texto não é um chamado para virar bruxo. Nem um convite para vestir preto e sair colhendo ervas.

É um lembrete sutil: o tempo quer conversar com você.

E ele canta em duas vozes: uma que dança sob o sol (os Sabás), outra que sussurra sob a lua (os Esbás).

A pergunta é: você ainda sabe ouvir?