O que é Paganismo? História, crenças e renascimento atual.
Descubra o que significa ser pagão hoje. Conheça a origem do paganismo, suas crenças, práticas modernas e como ele ressurge no mundo contemporâneo.
ESPIRITUALIDADE
Nykalios
7/30/20254 min read
O que significa ser pagão hoje? Uma jornada entre estigmas, memórias e redescobertas
Havia uma menina de 12 anos que, numa noite qualquer de 1998, assistiu a um filme chamado Jovens Bruxas e, sem saber explicar por que, sentiu algo acender dentro dela. Não era medo, nem empolgação infantil. Era um tipo estranho de reconhecimento. Aquela cena da floresta. O altar improvisado. As velas, a lua cheia. Ela nunca havia visto aquilo, mas sentia que já sabia.


Altar pagão, com velas e símbolos mágicos
(Vinte anos depois, ela descobriria o nome desse sentimento. E mais: que milhares de pessoas ao redor do mundo também o sentem.)
O nome disso é paganismo.
Mas o que isso significa, exatamente?
A palavra que sobreviveu ao exílio
Ser pagão é, antes de tudo, carregar um nome que não foi escolhido, mas imposto. Paganus, no latim vulgar, queria dizer "do campo". No início da cristianização romana, o termo era usado para identificar aqueles que não haviam sido convertidos. Com o tempo, tornou-se sinônimo de ignorância, idolatria, heresia.
Durante séculos, foi palavrão teológico.
Mas o que era para ser insulto se tornou, com o tempo, bandeira. Um gesto de resgate. De reconexão com cultos ancestrais, com a terra, com o sagrado plural.


Escultura romana do templo de Ísis Terapis. Museu do Vaticano. Roma, Itália
Paganismo não é uma religião. É uma constelação.
A definição mais segura talvez seja essa: paganismo é um guarda-chuva espiritual que abriga religiões e práticas que reverenciam a natureza, o ciclo da vida e uma multiplicidade de divindades.
Isso inclui desde vertentes bem estruturadas como a Wicca, o Druidismo, o Reconstrucionismo Nórdico (Asatrú) e o Helenismo, até práticas sincréticas e solitárias que não seguem tradição definida.
Mas há um ponto de união: a rejeição ao monopólio religioso e à ideia de uma verdade única.
Pergunte a dez pagãos o que é ser pagão. Você terá onze respostas. E esse é justamente o ponto.


GrimÓrio FICTÍCIO com símbolos de tradições pagãs
Do folclore ao feed: a era digital e a retomada do sagrado
No Brasil e em Portugal, o crescimento do neopaganismo acompanha as ondas da desinstitucionalização religiosa. Jovens buscam espaços mais abertos, simbólicos e conectados à natureza. Muitos encontram no paganismo uma linguagem para suas intuições.
Associações como a Abrawicca (BR) e a PFI (PT) oferecem espaço para rituais, formação e discussão política. Mas a maioria dos pagãos ainda pratica de forma solitária, guiando-se por livros, redes sociais, experiências diretas.
A cultura pop tem um papel ambíguo aqui: por um lado, abre portas para o encantamento. Por outro, reforça clichês. Bruxas más, pactos demoníacos, estereótipos milenares. (Difícil competir com a Disney e o Vaticano ao mesmo tempo.)


Influência da cultura pop na estética pagã contemporânea
E o que pensa um pagão sobre o mundo?
Não existe um "credo pagão", mas alguns fios se repetem:
A natureza é sagrada, e tudo está interligado
O divino pode ser feminino, masculino, ambos ou nenhum
Os ciclos da vida são celebrados (solstícios, estações, colheitas)
A ética é relacional, baseada na responsabilidade, não em dogmas
Muitos pagãos também se envolvem com pautas como o feminismo, a ecologia profunda, os direitos LGBTQIAPN+, e a liberdade religiosa.
Ou seja, para uma religião tão antiga, o paganismo tem um espírito surpreendentemente contemporâneo.


pagãos celebrando o Samhain
O problema dos espelhos quebrados
Não se pode falar de paganismo sem encarar os estigmas. A história ocidental empurrou a bruxa para a fogueira, o druida para o exílio, o sábio para a caricatura.
Na Idade Média, estima-se que dezenas de milhares de pessoas foram mortas sob acusação de bruxaria. E não, não eram todas mulheres idosas com verrugas no nariz. Eram parteiras, curandeiras, dissidentes. Gente comum com saberes ancestrais.
Essa herança continua viva. Pagãos ainda enfrentam discriminação, censura e exclusão em muitos espaços.
A imagem da bruxaria ainda precisa ser restaurada.


Mulher sendo condenada por bruxaria
Mas por que isso importa?
Porque toda cultura precisa de seus mitos vivos.
Porque toda espiritualidade precisa de um espelho honesto.
E porque, em tempos de crise ecológica, talvez não seja tão insensato ouvir aqueles que falam com árvores.
O paganismo não quer substituir outras fés. Ele quer coexistir.
E lembrar que, antes das catedrais, existiam bosques.
Antes dos dogmas, existia a dúvida sagrada.
Antes do medo, havia o encantamento.
Agora, me diga com sinceridade...
Você nunca sentiu um chamado inexplicável ao ver a lua cheia?
Nunca teve a sensação de que a natureza está falando com você?
Nunca desconfiou que havia um tipo de sabedoria no que o mundo moderno chama de superstição?
Pois é.
Talvez você também tenha uma centelha pagã.
(Seja bem-vindo ao círculo.)


Lua cheia sobre uma floresta silenciosa, evocação do sagrado natural
Pagão e bruxo. Compartilho meus aprendizados e conhecimentos com todos os interessados nesse mundo maravilhoso!
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