O Diabo no Tarot: Significado Profundo do Arcano XV e Suas Lições

Descubra o verdadeiro significado do Arcano XV – O Diabo no tarot. Entenda suas correntes, sombras e lições de libertação nas cartas do baralho dos arcanos.

TAROT

Nykalios

9/11/20255 min read

E é desconcertante admitir. Porque aprendemos a temê-lo. A associar o Arcano XV a vícios, obsessões, relações tóxicas. Mas, e se ele for também o libertador pelo riso? Aquele que revela nossas correntes justamente porque faz piada delas?

Lembro-me de uma leitura que fiz para uma amiga, anos atrás. Saiu o Diabo na posição de desafio. Ela suspirou: “Pronto, vem desgraça.” Mas algo me fez sorrir e dizer: “E se for apenas sua paixão por cantar no karaokê, que você tem vergonha de assumir?” (Era. E foi transformador).

Um espelho distorcido dos Enamorados

Numerologicamente, XV (15) se reduz a 6. O mesmo número dos Enamorados.
Mas onde os Enamorados celebram a escolha livre, o Diabo mostra vínculos de submissão. Onde há mãos dadas sob bênção divina, aqui há correntes frouxas no pescoço, frouxas o bastante para que possamos soltá-las, mas não o fazemos.

Essa é a ironia. O Diabo não nos prende. Nós nos mantemos presos.
E quanto mais tememos o desejo, mais força ele ganha.

A herança de Pan, Baphomet e Azazel

Não podemos esquecer que a imagem do Diabo tem raízes pagãs. Pan, o deus dos bosques, com pés de cabra e um riso obsceno, foi demonizado pela Igreja. Baphomet, figura gnóstica de sabedoria, virou símbolo de heresia. Azazel, o bode expiatório dos rituais judaicos, foi enviado ao deserto carregando os pecados do povo.

Esses mitos convergiram para o Arcano XV.
Não como entidades do mal, mas como projeções do medo humano diante da matéria, do corpo, da sexualidade.

Confesso que sempre achei curioso: aquilo que a religião tentou suprimir, prazer, carne, riso, embriaguez, é justamente o que mais se aproxima do Diabo no Tarot. Não é uma entidade. É um arquétipo daquilo que escondemos no porão da alma.

O corpo como prisão, ou como proteção

Pollack traz uma visão provocadora: o corpo, com suas limitações, não é apenas uma prisão da alma. É também sua proteção.
Sem pele, a luz se dissiparia. Sem ossos, seríamos puro vapor.

Então, quando o Diabo aparece, talvez não esteja dizendo “você está condenado”. Mas sim: “Olhe para sua carne. Ela é seu limite, mas também sua possibilidade. Aceite-a sem demonizar.”

As correntes invisíveis

Na iconografia clássica, um casal nu é acorrentado ao trono do Diabo.
Mas, olhe de perto: as correntes são largas. Podem ser removidas a qualquer momento.

A pergunta que o Arcano XV sussurra:
Por que você permanece preso?

Talvez porque seja mais fácil culpar o Diabo do que admitir que, no fundo, você gosta do conforto da escravidão. O vício, a obsessão, a relação tóxica, tudo isso oferece calor conhecido. Libertar-se exige frio e vazio por um tempo. E poucos estão dispostos a atravessar esse inverno.

Entre prazer e catástrofe

As interpretações históricas são claras: de Mellet chamou o Diabo de “catástrofe”; Christian, de “fatalidade”; Waite, de “escravidão”.
Mas Pollack, sempre corajosa, insiste: esse arcano pode ser também riso, sexo, festa, transgressão criativa.

E aqui há uma chave de leitura rara:
O Diabo não é apenas o “não faça isso”. É também “faça, mas saiba até onde pode ir”.

Como no vinho: uma taça é comunhão; três garrafas, ruína.

O Diabo como guardião do limiar

Observe a sequência dos Arcanos: depois do Diabo vem a Torre. Depois da Torre, a Estrela.
Ou seja: só atravessamos para a luz passando pela escuridão.

O Diabo é o guardião da porta. Ele não a fecha. Apenas testa se estamos prontos para atravessar.
Se ainda nos apegamos às correntes, ficamos.
Se rimos de nossas ilusões e as soltamos, seguimos.

Arcano XV - O Diabo, Tarot de Waite

O Diabo – Arcano XV: entre correntes e risos proibidos

Você já sentiu prazer em algo que, ao mesmo tempo, parecia lhe acorrentar? Talvez um vício suave, rolar a tela do celular até a madrugada. Talvez um desejo avassalador que queimava mais do que confortava. Ou até aquele medo íntimo que, paradoxalmente, você não solta porque já se tornou parte de quem é.
Pois é. É aqui que o Diabo entra.

Não como a caricatura medieval de chifres e rabo pontudo. Mas como um espelho incômodo. Uma presença que ri, não de você, mas do teatro humano que insiste em chamar de vida.

O riso perigoso dos arcanos

Rachel Pollack chama atenção para algo raramente lembrado: o Diabo não é apenas prisão. Ele é também mirth, alegria, humor, até um certo deboche cósmico. Como se dissesse: “Vocês se levam a sério demais.”

Foto de JJ Jordan na Unplash

Quando ele surge em leitura

Já vi o Diabo aparecer em situações tão díspares que chega a ser engraçado:

  • Na mesa de uma jovem que descobria seu primeiro amor tóxico.

  • Numa consulta sobre carreira, revelando dependência excessiva do salário e medo de empreender.

  • Até numa leitura para um artista, em que foi recebido com alegria: “Ah, é meu vício em criar sem dormir.”


A carta nunca vem sozinha. O contexto importa.
Mas, invariavelmente, ela provoca desconforto. É sua função.

Invertido: libertação ou sobriedade

Quando invertido, o Diabo pode indicar quebra de correntes, fim de ilusões, até mesmo sobriedade após períodos de excesso. Mas cuidado: não é uma promessa de céu limpo. É só o primeiro passo após dizer “basta”.

Na verdade, pensando melhor, o reverso nem sempre é “melhor”. Às vezes, mostra repressão exagerada, a negação do desejo que retorna, mais forte, pela sombra.

Exercícios de reflexão

Pollack sugere práticas específicas com este arcano. Gosto especialmente do “Pentagrama”:

  • O que perdi?

  • O que me bloqueia?

  • Que correntes ilusórias me prendem?

  • O que é real?

  • Como posso me libertar?

  • O que acontecerá se eu o fizer?


Experimente fazer essas perguntas diante do Diabo em uma leitura pessoal. Não espere respostas fáceis. Ele é um mestre do paradoxo.

Uma provocação incômoda

E se o Diabo for necessário?
E se sem ele não houvesse despertar?
Afinal, sem a escuridão, quem notaria a Estrela?

Não proponho aqui uma romantização do sofrimento. Apenas um reconhecimento: o Arcano XV pode ser visto como a sombra inevitável que precede a luz.
Talvez ele não seja o vilão da história. Talvez seja apenas o comediante que, no palco da vida, escancara nossas fraquezas para que possamos rir delas.

Entre o riso e o abismo

No fim das contas, o Diabo não é sobre entidades externas.
É sobre nós. Sobre nossos desejos inconfessáveis, nossos medos secretos, nossa dificuldade em soltar as correntes que nós mesmos colocamos.

Mas também é sobre festa, prazer, corpo, carne, gozo, riso.
É sobre o poder de encarar o abismo com uma gargalhada na garganta.

E você? Da próxima vez que o Diabo surgir no seu jogo de tarô, vai tremer de medo... ou rir junto dele?

Reflexão: O Arcano XV nos convida a olhar para o lado mais humano, e, portanto, mais perigoso e mais vivo, da jornada do Tarot. Ele é o espelho distorcido dos Enamorados, o guardião entre o humano e o divino, e o mestre que ensina não pela moral, mas pelo paradoxo.