Os Enamorados: Entre a escolha e o desejo, o amor pede coragem.

A encruzilhada que ninguém vê

O Arcano VI é, superficialmente, uma carta doce.
No baralho Rider-Waite-Smith, vemos Adão e Eva, nus no Éden, observados por um anjo, presença que observa, mas não intervém.

Mas por trás da imagem serena, está o verdadeiro significado: a ruptura.

Para amar, é preciso cortar.
Para escolher, é preciso renunciar.

E quem disser o contrário... está mentindo para você.

A escolha que nos transforma

Segundo Rachel Pollack, Os Enamorados não são sobre o outro.
São sobre o eu.
Sobre aquele instante em que a alma se parte ao meio, e uma metade precisa seguir sozinha.

No Tarot de Marselha, a imagem é ainda mais provocadora:
um jovem entre duas mulheres, uma mais velha, outra mais nova.
Tradição versus desejo.
Dever versus impulso.
O que esperam de mim... versus quem eu realmente sou.

“O amor é lindo.
Mas também é uma faca bem afiada.”

Livre arbítrio: bênção ou castigo?

Na Cabala, essa carta se associa à letra hebraica Zayin, que significa espada.

Sim.
O Arcano do amor se alinha com uma lâmina.

Porque amar é cortar.
É separar-se do que não cabe mais.
É deixar para trás até mesmo o que ainda pulsa.

Você já precisou escolher entre dois amores?
Ou entre o amor e você mesmo?

(Se sim, então já conheceu a dor dessa carta.)

Após a doutrina, vem o desejo

Na jornada dos Arcanos Maiores, Os Enamorados vêm logo após o Hierofante, o mestre das tradições, o guardião das regras.

E então... chega o momento de perguntar:
“Mas e eu? No meio disso tudo, o que é verdadeiro para mim?”

É nessa hora que tudo estremece.
É quando deixamos de seguir o caminho traçado pelos outros, e passamos a traçar o nosso próprio.

Mesmo que isso nos parta em dois.

“O coração bate forte... Mas é a alma quem decide.”

Quando o amor não é resposta, mas pergunta

Você já se viu parado diante de duas possibilidades tão intensas que a simples ideia de escolher uma significava partir o coração?
Não só o seu, talvez... mas o daquilo que você poderia ter sido?

Os Enamorados não falam apenas de romance.
Eles falam do abismo silencioso entre o desejo e o dever.
Entre o que nos foi ensinado... e o que nos atravessa por dentro, feito flecha.

“O amor verdadeiro não começa no encontro.
Começa na escolha.”

The Lovers/Os Enamorados - Tarot de Rider-Waite

Quando Os Enamorados aparecem em uma leitura

Nem sempre significam um casal.
Às vezes, indicam um dilema.
Outras vezes, um rompimento necessário.

Pode ser o começo de algo arrebatador.
Ou o fim que, finalmente, liberta.

Eles não vêm dizer o que escolher.
Vêm apenas avisar que chegou a hora de decidir.

E quando Os Enamorados aparecem invertidos?

Nem toda escolha leva à liberdade.
Nem todo amor é amor de verdade.

Quando Os Enamorados surgem invertidos, os sussurros do coração podem estar sendo abafados por vozes externas, medo, indecisão, dependência emocional, convenções sufocantes.

Essa carta de cabeça para baixo aponta para:

• Bloqueios na tomada de decisão: quando a dúvida paralisa mais do que protege

• Relacionamentos desequilibrados ou ilusórios: onde há mais carência do que conexão

• Fuga da responsabilidade pessoal: esperando que o outro decida por você

• Desejo dividido, traição ou negação de si: a alma quer uma coisa, mas você insiste em outra

O recado aqui é claro, e doloroso: Algo está impedindo a escolha verdadeira.
Ou então, a escolha foi feita... mas não foi sua.

A coragem de escolher

Escolher é um ato de criação.
É dar forma ao destino.
E aceitar as perdas que isso traz.

(Confesso... essa carta me assusta um pouco.)
Ela traz flores e facas no mesmo gesto.

Mas talvez seja esse o verdadeiro amor:
aquele que te permite escolher, mesmo que doa.

Provocação final

Da próxima vez que essa carta surgir diante de você, pergunte-se com honestidade: “Eu estou vivendo por amor...
...ou por medo de escolher?”